segunda-feira, 20 de junho de 2011

O BICHANO

Apanhei um gato na rua, porque levantou o dorso sem eriçar o pelo, fazendo uma espécie de dança coquete, como quem oferece o lombo para receber uma festa. Não quis criar nenhum compromisso, ele deu um miau nem muito baixo nem muito alto, na despedida; fiz uma festa, deixando-o ficar onde ele se encontrava. Amanhã quando lá passar lembrarei o bichano, já lá não estará. Pelo menos é improvável, o lugar fica no meio do caminho, num passeio público duma estrada com bastante movimento. O acaso, às vezes dá-nos momentos como esse, para recordarmos a sua presença? No caso, o acaso foi gato.

Ale,
Se esta festa teve lugar, por certo; improvável é ter sido num passeio público, certo é ter gostado muito de poder responder ao teu comentário. Beijos


SAUDADES

I
mas que saudades sinto
e não conheço
melhor que isto que é
o suficiente para me confessar
assim?
e dá-se
esta curiosa
materialização vinda
da vida para a poesia enquanto
poesia
espaço para
apreciar as palavras
e a sua importância relativa mas
ao mesmo tempo absoluta
e total

II
num segundo momento
procuro as sa_u_dades sem
saudades verdadeiras
das ter
gozo com a prosódia
deste versar
feito
como quem conversa
deixando o tempo passar

III
não tarda
estarás aí a chegar
onde a leitura te interrogará
sobre
como ler o poema?
foi para esse momento que
ele está a ser escrito
e ficará acabado
como se isso fosse possível
tão possível
como ler (o poema)
nas palavras os sentidos
quando nos vivem todo o ser

SA_U_DADES
SA Sociedade Anónima
U Urdida de idades
tão intemporais
como o Futuro neste momento
ainda lá não chegámos
e é quando o temos

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