segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

FALANDO COM OS DEDOS

FALANDO COM OS DEDOS

Não me digam porque escrevo, disse ele aos dedos, quando já escrevia. Voltou à ideia que o trouxera, procurou as palavras que tinha tido na cabeça, convicto de ainda as encontrar:

A linha litoral dos dias tece horas de espuma duma beleza capaz de dar à costa da imaginação; não era exactamente isto que tinha em mente, pelo que se interrompeu e espraiou

O LITORAL DOS DIAS

na linha litoral dos dias
há horas de espuma
para dar à costa
imaginação
capaz de se espraiar

Na praia das palavras um prosador senta-se na areia e vislumbra um veleiro no mar, o seu mastro atravessa o horizonte e entra no céu. Ele está sentado na areia sonhando com o Verão e o seu calor, para a realidade ter o conforto de imaginar o que o cerca. Está nu, levanta-se e corre para a rebentação, quando mergulha está cheio de energia e emerge para nadar furiosamente como se fosse cruzar o mar. Vira-se de papo para o ar e é pássaro poisado na eternidade, fazendo das asas a sua cama.

ALGO EM (ALGO) ALVO
Todos os dias aprendemos alguma coisa nova, se fixarmos alguma coisa que ficamos a saber, quando nos lembramos de algo porque encontramos esse algo em "algo" que nos lembramos.
Algo quero aprender destas definições,
lembrar-me que as li faz a diferença, para um dia quando procurar definir "algo" me lembrar que isso já me ocorreu muitas vezes mas, desta vez, guardei uma referência. Abraço.


Kiro Menezes disse...



Que lindo Fran... ♥


tecas disse...
Afinal, é um texto com o teu estilo único. Seja o Francisco, o Assim ou a Mim. «Há um filme, se não conheces inventas, onde o nome dum homem dá origem a todas as peripécias. Eu gosto de peripécias, são o que escrevo quando publico Assim, Mim, R e Francisco Coimbra. Inventa(R)mo-nos a nós próprio: in_ventar, soltarmo-nos ao vento! Saímos das palavras, bom sair das saias da mãe, importante deixar as palavras, importante ser_á... amá-las tanto com à nossa mãe. » Penso ser uma resposta ou a continuação do texto da Maria João Oliveira. Se é loucura usares heterónimos, Fernando Pessoa era um dos loucos mais lúcidos, entre os poetas. Gostei. Bjito amigo
 
Maria João disse...
"Afinal", eu tenho um blog"! Tenho um blog? Não. O seu a seu dono. Obrigada, Francisco, por me teres recebido na tua "casa". Gostei de cá estar, até porque aprecio casas com muita luz natural e janelas amplas para horizontes largos. "(...) existe o texto, a leitura tem que ser feita". E se a leitura não for feita, o texto não existe. "(...) nunca sei ao certo qual a leitura que terá o texto". Ainda bem que não sabes. Um texto literário é um texto aberto que convida a várias interpretações, como se sabe. E o leitor preenche, livremente, os espaços em branco da sua linguagem ambígua. Penso que o leitor não tem que decifrar a mensagem, nos termos do emissor. Não há um código comum entre texto e leitor, não é verdade? É por isso que a sacerdotiza Bacbuc serviu um copo de água aos peregrinos e cada um deles encontrou, na mesma água, o sabor da sua bebida preferida. :0) Foste um óptimo (ainda com p...) anfitrião, Francisco. Muito obrigada! Agora vou até ao jardim. Abraço Maria João Oliveira P.S.: "(...) a continuação do meu texto"?! Acho que a Tecas acertou num alvo interessante...:0)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

SÓTÃO DAS IDEIAS

O Príncipe vivia no quarto de século donde tinha de sair cumprindo uma Lei antiga, a qual o obrigava a casar com uma Princesa com quem teria principezinhos, para "Garantir - a existência dum Rei - hoje e Sempre!" 
Esta é a Lei, nunca ninguém a desafiou, pois dela se considera devedora a existência do Reino.
Fui buscar a ideia ao sótão do maravilhoso infantil, onde se acumulam os contos e as fábulas, deste o tempo em que os animais falavam. Aconteceu olhar para os olhos dum mocho que aí vive, fiquei hipnotizado a olhar para eles pensando na hipótese de falar com o Mocho.
Mocho: - Para que estás a olhar, como se quisesses cair pelos meus olhos, encontrando o buraco por onde a Alice caiu?
Quem quer responder ao Mocho? Eu não! Já me chega o Problema do Príncipe, penso que deve ter algum. Não sei ao certo, esta história é um bocado estranha, deve ser por se passar no Sótão das Ideias.
O problema penso será este, o Rei é o pai do Príncipe, o P. não deve querer casar, talvez esteja apaixonado. Quem sabe vive um amor secreto com uma camponesa? Com uma aia da rainha que é uma princesa, mas já está prometida a outro príncipe?
O P. é capaz de ter um dragão voador... O Paulo foi seguidor de Jesus, agora aposta ser apóstolo do Pai. Como o Pai não é o Rei, digladia-se entre religião e política.
O Paulo das Escrituras Sagradas, não era príncipe, também falta um evangelho onde se possa conhecer a existência dum filho de um dos Reis Magos que tenha ficado a viver com Jesus e se chame Paulo, ou se chamasse. Tudo nesta história é fantástico, quem fica a olhar os olhos do Mocho?
Responda à pergunta do Mocho quem ficar hipnotizado, a partir daqui, parti(R).
Exemplo dum poema que não se escreve...

{(A)BORDO

a pele estendida
acompanhando o corpo
nele cavando do mundo
uma realidade vasta
rica de relevos

em múltiplas formas
forma se une e divide
do côncavo ao convexo
sensação desfrutando
com os pés e mãos

membros dum conjunto
onde junto dos versos
sua uma face manifesta
de paixão pela palavra
nutrindo a expressão

o que me faz sorrir
pensar como esconde
a realidade que mostra
toda a pele do corpo
se for superficial

A ABORDAGEM
23-02-2011}

sonha-se com ele!

De 23 ou 24-02-11, manuscrito em folha solta:

Comentar não é o mesmo que publicar, enquanto não te posso ler num blog teu, deixo que o meu hoje teu seja. Fico agora na situação de poder comentar o que escreveste, o que não vou fazer. Primeiro porque tive a ideia de publicar o teu comentário para dizer o que estou a escrever, independente do conteúdo, é uma forma de agradecer.
Os comentários são a expressão duma opinião mas, acima de tudo, são uma forma de contacto. Na verdade costumo agradecer, retribuindo as visitas recebidas. Comentar ou publicar, toda a escrita é algo mais que as palavras e há algo que se se pode não sei se se deve agradecer: o que nos dá a liberdade de fazer o que nos apetece, porque sim.
Pronto, publiquei porque sim, e espero seja uma surpresa agradável: mesmo se estavas* à espera (smile) :)
*Maria João

sábado, 26 de fevereiro de 2011

AFINAL...



Maria João disse...

A meu ver, trata-se de uma autoficção que dá o seu recado "... Morro sem incomodar muita gente ..." E, depois de morto, tem direito a foto no jornal. Pelo menos, não corre o risco de ser transformado numa marca de roupa ou de refrigerante (afinal, um "sem abrigo" sempre tem alguns privilégios...).
"Qual a categoria filosófica a dar à ideia de abandonar o mundo das obrigações familiares, sociais, amorosas, odiosas"? Para alguns, poderia ser, talvez, realismo mágico...:0)
Conto ou crónica? Rubem Braga deu uma boa resposta a esta questão. Quando alguém lhe perguntou o que era a crónica, ele respondeu: "repare bem: se não é aguda, é crônica".:0)
Francisco, gostei de encontrar, aqui, José Jorge Letria, o grande poeta do "labirinto sem Minotauro", "aquele que escreve, sempre/só para não morrer com a comoção dos livros adiados".

Obrigada pelo conselho. Vale a pena, sim (Natália Correia, desta vez!). Já não encontrei o "Coração sem abrigo", mas vou comprá-lo, em breve.

Um abraço
Maria João Oliveira




Depois do exagero, vem a ressaca. "Ressaca"? Consumiste substâncias tóxicas demais na "incursão política de há dois dias"?
É caso para dizer: "sem saber que era impossível, ele foi lá e fez". E fez o que estava na sua "verdadeira natureza", embora se tivesse apercebido, pelo menos durante alguns momentos, de que na nudez, não se dá tiros...
A imaginação permite pensar que tudo é possível. Caçar gambozinos, por exemplo. Não é fácil, mas com a ajuda dos pirilampos, que são um grande "manancial de Iluminação", o impossível torna-se possível.
Se voltares a escrutinar a tua loucura, conta com o meu voto, ainda que tenhas o destino do reino, nas tuas mãos.:0) Mas... que loucura é esta? A loucura de escrever por outros que são, afinal, tu próprio?
Um abraço
Maria João Oliveira

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

PROCURA/ MEU CURA

PROCURA

a linha súbita
do verso tocado
pela inspiração

nele há dois
em um

ápice de felicidade!
Assim

MEU CURA

tu que me levas
ao prazer da loucura
dás-me da procura

não tem cura
nosso amor

ápice de felicidade!
Mim

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

RESSACA

Na ressaca da incursão política de há dois dias, um tríptico com uma trip ficcional de ontem. Rés... vês a coisa a vir, se... ler(es) com atenção.

CACA
Depois da política:

CAÇA AOS GAMBUZINOS

Com tempo, ao longo dos anos, fui-me apercebendo da minha verdadeira natureza. Quanto mais a intuía e melhor a conhecia, mais ela me pertencia. Isto até ao dia em que decidi escrever o que pensava dessa intuição, a intuição falhou.
Desagradado com esta situação, achei que, se continuasse a escrever, acabaria por acontecer alguma coisa. Deste modo me fui convencendo de ter entrado numa caçada, apontei a um gambuzino. Quando já o tinha na mira, percebi que estava nu, não quis disparar. 
Convicto de ser um disparate disparar, a minha verdadeira natureza veio ter comigo; e, fomos felizes para sempre! Sempre resolvi dis_parar...

UM SEGUNDO...

Apanhado o primeiro gambuzino! Os gambuzinos precisam de levar tiros para ficarem mais vivos, cheios de saúde, plenos de felicidade. Quando se dá um tiro num, ele recebe-o feliz. Se lhe atingimos o coração é o nirvana total, o xangrilá, o céu e coisa e tal, transcende toda a realidade conhecida, sonhada ou imaginada, é mais que o tudo e o nada juntos, é o presunto da perna, uma saborosa realidade fumada, curtida, vivida de forma concentrada. Um sei lá do tamanho do Cosmos, o seu como com os esses aos saltinhos como testículos no escroto em movimentos permanentes, involuntários. O verdadeiro coração da coisa, a revolução da natureza hu_mana!
Manando este manancial de Iluminação, fui.

TERCEIRO

A minha verdadeira natureza dá puns de satisfação, tem "flatus voicis"! Cada Pum! acrescenta e deixa no ar um perfume insuspeito, o som das palavras na sua vida sensorial de formas com vida que convidam à leitura. Transformei-me em monge, mugia a teta da inspiração e mugia enquanto a mungia, mugíamos os dois. Tornei-me um touro, ela é a minha vaca! Lançamos cada pastel mais quente, maleável, eu sei lá... Apetece tocar, besuntar a pele, fazer presuntos das coxas da porca; a minha vaca é uma porca! Eu escrutinei a minha loucura, nunca mais quis outra coisa: é loucura para lá e loucura para cá (exterior_mente... acredito pareça uma mariquice pegada) até ao dia do Juízo Final, sabe-se lá quando!?
A loucura é um património dos Iluminados, o Segredo dos segredos.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

SENSUALIDADE

(A) SENSUALIDADE

às letras dou todos os sentidos
onde elas se dão ao corpo e alma
com que a elas me entrego

Voltando ao dia de ontem, comentário e [n]ovo poema:

Antes de mais grato por não deixarem o poema cair em "saco roto". Quanto à discussão rica e sempre inacabada da importância da forma e das suas implicações com o conteúdo (...) a composição que vou apresentar de seguida. Não sem antes dizer que não leio como um soneto o poema que publiquei antes. Formalmente sim, pelo número de versos, pelo tipo de rima; o ritmo do poema e a sua métrica escapam por completo, são outra coisa que o soneto não é. Um soneto é uma composição dum lirismo tangível, já o poema que escrevi é quase um "ensaio" sobre a sensibilidade às sensações inerente à expressão poética dum grito. Todo o poema vive da plástica das palavras, ambicionaria poder dizer que faz a construção da sua própria beleza num todo onde se quis reforçar a importância da forma. Se não o leio como um soneto, leio como é, efectivamente, muito marcado pela forma. Um à parte, gostei imensamente dum verso: «aberta como um vale cavado num perfume» metaforizando a palavra "garganta".

ECLOSÃO
 
(o) eco na composição
vamos cá com calma ponderar
sobre que seja (o) soneto,
forma clássica dum obrar
dos versos onde (o) cometo

quando como agora conto
as sílabas para produzir
uma métrica mais perfeita
ajeitada ao jeito a vir

directa desta inspiração
que procura na forma compor
improviso e respiração

como (o) mais completo fluir
onde o que se pensa ao por
é (o) ovo no seu eclodir!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

PERPLEXO

 
Agrada-me, um blog político. Um olhar sobre a realidade, é sempre o melhor da fantasia e imaginação que cada um nos pode dar!
O voto é secreto, fazes segredo do teu voto? Aqui tens uma pergunta que ajuda a definir muito duma pessoa, dividindo as pessoas em duas hipóteses distintas: aquelas que gostam de ter opinião e a dar, convictos que podem transformar a realidade? e outras pessoas para quem a sua opinião é pessoal e não a pretendem transmitir. Esta última classe de pessoas não pretende transformar a realidade, procura ter a realidade dentro de si. É pouco, para quem quer conhecer. Mas, do pouco se faz muito. A transformação da realidade, em si mesmo, não é realidade nenhuma, é a realidade em si mesmo: tudo está permanentemente em mudança. O que penso não dizer agora, é o que não me importo de dizer logo, tudo depende de, para onde pende a vontade de conhecer: como conheço, se não me der a conhecer?
«Então, sim, haveria uma democracia plena, onde cada homem valeria um voto, e não como agora, que cada voto nos partidos grandes vale mais que cada voto nos partidos pequenos, devido às consequências do método seguido – o de Hondt.»
A democracia plena: «onde cada homem valeria um voto», com o método de Hondt cada homem vale dois? Não, sim, e quem não dera... Concordo, acabe-se com o método de Hondt. A democracia não fica plena na mesma, torna-se é mais difícil haver maiorias que foi a finalidade procurada.
Concordo que as maiorias sejam encontradas na Assembleia da Republica, os arranjinhos deixaram de ser tão internos aos partidos, a corrupção tornar-se á mais transversal, atravessando a necessidade de entendimentos entre as várias cores políticas. Lá estou eu, a dar voz à desconfiança geral. Temos remédio? Não temos, temos de confiar. É mais difícil corromper quem não é da minha cor política? Talvez, então estamos a ir no bom caminho. O problema é que o bom caminho é, potencialmente, um não caminho. O que pensar dos senhores que, na Federação Portuguesa de Futebol, representam os seus representados? Não sei falar do que me é repelente, a estupidez dá urticária, nojo, o repúdio completo!
As sociedades são famílias, se a família não tiver no amor e fraternidade os seus valores, podem tornar-se impraticáveis! E sim, Deus nos livre da Máfia. Nem sei o que isto pode dizer, até ver estou livre dum e da outra. Querer dizer? Quer dizer qualquer coisa, a imensa possibilidade dos valores e da falta deles. 
Deus é um valor obtuso, mas representa um ângulo de abordagem da realidade que talvez não se possa ultrapassar por completo, entendendo por Deus: a tão desejada omnipotência ter uma representação qualquer! A Máfia representa o contrário da crença na omnipotência, só busca a potência ao preço do crime e da corrupção.
Vamos à Poesia, deixemo-la poisar... na poesia dos versos.

NO GRITO/ NU SILÊNCIO
(d' ele grito desertando...)

roxo da cor das contusões que tiram tudo
apenas deixando a dor e o horror num ror
de queixas que não o expressam no mudo
de forma diferente à dum brilhante cantor

um grito rasga o peito e sai pela garganta
aberta como um vale cavado num perfume
onde a inspiração persegue o que espanta
a quem desperta como estivesse em lume

ardendo nas angústias de quem sem leme
sente que a dor na sua alma lhe implanta
toda a agonia com a qual o coração freme

paro sem freio a acelerar de febre um calor
onde a energia vibrante desse grito escuto
no silêncio nu e desigual sinto-me desertor

sábado, 19 de fevereiro de 2011

AVISO

Não sei para que escrevem as pessoas, pois difícil será imaginar só um motivo mesmo no caso de uma só pessoa. No meu caso sei que não escrevo para transcrever e me tornar publicado, conhecido, apetecido... qualquer coisa terminada em ido. Isto lembra-me os Idos de Março, o que me leva a uma informação pre_ciosa:


15 de março (português brasileiro) ou 15 de Março (português europeu) é o 74º dia do ano no calendário gregoriano (75º em anos bissextos). Faltam 291 para acabar o ano.
(ou, têm várias datas à escolha, em anos diferentes)

Imaginando que a minha vida dê uma boa história, farei por morrer 100 anos, com o seguinte epitáfio:

Isto cai bem no dia em que anuncio ter acabado com os anúncios que tinham começado... neste blog. Este é o motivo porque quase nunca sabemos passado uns tempos o que aconteceu nas notícias que foram notícia, a realidade dos acontecimentos só interessa enquanto é uma "construção do real": o que tendo acontecido dá alguma coisa que está para acontecer... quando morrer aviso!?

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

REALISMO TRÁGICO


«Talvez seja esta a minha forma de realismo trágico, categoria estética e filosófica que acabo agora mesmo de inventar», José Jorge Letria in Coração Sem Abrigo»

Um homem vive como “sem abrigo”, tendo arranjado por companhia um cão. A história dá para um romance. Dela procuramos tirar um conto, um canto. Um canto sem versos, uma prosa capaz de cantar contando, a fragilidade da vida, da mente humana.
Interrogo-me, qual a “categoria filosófica” a dar à ideia de abandonar o mundo das obrigações familiares, sociais, amorosas, odiosas? Que rosas cairiam das mãos de um vagabundo, se lhe dissessem:
- Mostra o que levas nesse saco!?
Imagino-me de cabelo comprido, desgrenhado e de unhas a pedir que as corte com os dentes, mas sem dentes, sujas, a pele das mãos crestada pelo frio, sol, intempéries. Recosto-me, deixo a mão continuar a escrever esta espécie de sonho sem pesadelos.
Nesta história morro sem incomodar muita gente, só as almas que se comovem com a tristeza dum cão. De manhã o cão quer ir procurar comida, reclama a minha companhia. Lambe-me a cara, não recebe a costumeira festa. Apercebe-se de que algo de errado aconteceu, definitivo e terrível, dono ao contrário, o seu companheiro morreu. O cão já não tem quem tomar conta, ladra, chora, chama. Alguém se aproxima, trás máquina fotográfica, é repórter?
A_final… este conto é uma crónica: a morte dum vagabundo com cão.

Nota: aconselho (a) compra dos livros que estão a sair com a revista “Visão”!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

TONS DE CINZA

As memórias são actuais no momento em que ocorrem, presença, imagens?
 
TONS DE CINZA

nem sei do que me lembro, semeio
a preto e branco, em tons de cinza
o se da palavra com que represento
esta ideia da escrita associada
SE
se
a meio da escrita ou no princípio
ou no final ou no oco ou indo o eco
vindo onde indo vou TONS DE CINZA
descobrir o verso que sai da terra...

A minha praia são as imagens nas palavras, da lavra à colheita, sonho(s) frutos(!)

CINZA DE TONS

uma mescla de cores fotografadas a preto e branco num voo de fadas as nuvens... pairando.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

AMOR FANTASIO

O AMOR ACESSÍVEL

o amor acessível às massas
seria o meu tema político
para existir um eventual evento
capaz de dar a palavra à Poesia
fazendo-a ouvir-se

de forma extraordinária
os versos seriam lidos saindo
da escrita para a oralidade
por crianças das escolas

quando déssemos conta
poderíamos estar a ouvir dizer
«acordei nos teu braços

sorrindo a acordar sonhando»
e seria uma voz de criança

todas com prémios de leitura!

Faltou-me adormecer para estar a acordar agora, pego nos dois versos e procuro reconstruir o poema:

ONDE ME FANTASIO

somos no momento abraços
encaixando o teu peito macio
eu acordei em teus braços
querendo rumar a um bacio

sorrindo a acordar sonhando
tento tactear a pele do vazio
vêm palavras atravessando
um espaço onde me fantasio

Se não brincamos com a poesia ela leva-nos a sério! Não faço avisos, só tenho de os ouvir.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

OLHO INTERIOR

OLHO (O) INTERIOR: KITCH STRIP

Não queres que a tua vida seja repetitiva e monótona, "esquece-te" de ligar o despertador e deixa-te dormir.
Quando acordares terás sonhado, podes sonhar ser escritor: viver para a escrita. Se tiveres sorte podes até viver da escrita, essa parte do sonho é mais para a frente.
Hoje imagina que acordaste a pensar escrever uma história de Dia De Namorados, o teu Dia D, de Deolinda ela o Dionísio ele. Um será o Bem, outro o Mal.
Ela é o Bem, ele o Mal. Imaginas que seja ele, pela força, a apoderar-se dela. Sabes que está mal, a história fará o resto!
Vamos ao resto, ele rapta-a. Já muito antes sonhara, vivera a sonhar, com este momento.
Drogada Deolinda é levada para uma cave, parece e é uma masmorra. Foi decorada a partir dum filme, reproduz todas as máquinas de tortura, tem quadros de ferramentas nas paredes e está muito limpo todo este espaço, uma decoração kitch.
Quando ele e ela ficam sós, ele pega nela e pendura-a num cavalo sem arções. Prende-a pelos pulsos e tornozelos aos pés do cavalo, a cabeça dela pende, os pés caem a direito para o chão.
Está nua, completamente nua. Só que não se apercebe de nada, a pele nua em contacto com o couro, o sangue a descer para a cabeça. Os pés a ficarem frios e as mãos, mas todo o ambiente está aquecido.
Ele senta-se numa cadeira rotativa com rodas nos pés, situa-se nas costas do Bem, olha-a entre as pernas. Também ele se despe, como se fizesse um strip.
Ela acaba por acordar, quando ele acaba por tirar a última meia atirando-a. Tentou acertar-lhe e conseguiu, a meia acerta-lhe logo acima da cintura, desliza pelo tronco, pescoço, parece imobilizar-se nos cabelos, acaba por cair, depois de lhe fazer uma carícia na cabeça.
Abre os olhos, vê o chão, as corrente nas mãos, correntes... Sabe que está presa, de pés e mãos. Toda a percepção é lenta, ela está, mesmo sem querer, sem pensar nisso, a gozar o momento.
Ele vê-a estremecer, quando a sua meia cai no chão. Está sentado por trás dela e olha-a, esperando que ela abra os seus lábios e olhe para ela através dum olho interior.
Aproxima-se e beija-a nos lábios carnudos, sentindo a sua penugem na boca e o seu aroma. Os lábios parecem responder-lhe, volta a beijá-la. Apoia as suas mãos delicadamente nas costas dela, aspira fundo. Sente o corpo dela estremecer e aquecer, usa os lábios como termómetro. Ela aquece e abre-se como um fruto maduro, libertando sabor, sumo. Sumo prazer, o do amor. Ele sente uma erecção animal e têm-na completamente à sua mercê.
Senta-se na cadeira e olha, só olha. Está na altura de dialogarem; agora, cabe ao leitor(a) serem Bem e Mal, completarem a história.
Por ser Dia Dos Namorados, o Dia D de todos os felizes contemplados pelo prazer e ilusão de andarem a Aprender A Amar: AAA! Sorria só, aceite com tranquilidade a missão.
Ela está de cabeça caída, Ele voltou a sentar-se. Está na cadeira onde escreve, escreva o diálogo: vou dar o final.
Ele desamarra-a, ela entrega-se-lhe. Ele concebe e é concebido por uma fantasia, Ela é uma fantasia que se realiza sem precisar de imaginar a realidade, vive-a! Acabam fazendo amor neste dia de Deolinda e Dionísio, se ainda me lembrar disto, amanhã continuo a história. Será o início dum romance, uma história a continuar-se doutra história. A esta deixo-a ficar "olho interior", só ... precisão ... fazer abrir o olho e olhar por ele. É continuarem a usar a Língua, é o bastante. Ergue-se o bastão d'Ele, Dionísio decreta: Acabou.
Gozem, um bom Dia D.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

a sorte

a sorte influência a leitura deste livro

No dia 13, abre o livro na folha 13. Lê a frente e o verso (como quem contempla o frontão da acrópole), fica feliz sem qualquer motivo: viva esta ideia!
UNA uma coisa à outra
UMA, obtenha a frente e o verso:

como uma concha

Podia ser melhor? Não, não podia. Pode é não ter o livro para ler, escreva um:

1

Este é o manual essencial da Verdade:

É necessário tocá-la.!.

Lá se é Assim Mesmo ou Mim Mesmo ou Mesmo... o Filho? Ninguém sabe onde o leva o que o leva, deixe-se levar pelas ideias!...

a esporra jorrou
dentro duma pedra quente
aqueceu a Terra
fecundou um ser fecundo
criou-se mundo!

(O) MUNDO
Eis a vara do Moisés fazendo nascer uma fonte da pedra... abrindo a boca de espanto, o povo bebeu da rocha.
Cada um saiba o que quer, todos esperem querer o que a Sorte lhes der. A Nadja ergue a cabeça, engalanada de capelo aberto, sibila a língua bífida até o coração se fazer ouvir.
Paro, levo a mão ao pulso (ninguém o fará, Ninguém o fará, o fazer assiste esse alguém), o coração bate.
Segue a vida.

POIS

Pois, não tem interesse em ler escritores, gosta de encontrar palavras virgens onde as planta com emoção?
Toco a terra, procuro um grão de areia no deserto...
Quem quiser procure o que queira à beira do caminho, deixe-se conduzir pela curiosidade. Já tem idade de entrar pelo rio em pelo: curioso/curiosa, ousa, ouça...
Entre por aqui:
UNA/UMA
...

Por acaso ontem houve Assim & Mim:

[Não sei nada de nada daquilo que sei, quer isto dizer ter começado de novo, como quem nasce. Vou fazer desta hipótese uma verdade semelhante ao Sol, fica garantida a existência da estrela e a luz está para a vida como o dia para a luz, numa revelação sujeita às horas, o que nos fala do movimento da Terra e de conhecimentos tão primários como acordar para a realidade. Posto isto aterra a ideia deixando as marcas da nave a jacto, escritas acima das nuvens. Aterrei, são horas de ir para a cama.]

PULSA NO PULSO

I
antes de depois
enquanto dura isto
estamos num durante

não o deixes passar
passa-te com ele

viajando ao interior nu

II

pulsa no teu pulso
no sangue da leitura
esta história viva

de acordar o poema
pelos seus versos

despertando a poesia

III
chegamos à essência
desertando letras
neste deserto

onde a areia cai
erguida no ar

pois vamos no vento!
Assim

SIM, ASSIM

sim, o que me espera
é dar-te a ler este
modo dum dizer

onde tu modelas
novos modos

estes que faço meus!
Mim

sábado, 12 de fevereiro de 2011

POSSÍVEL A PAR

A ARTE DO POSSÍVEL

procuremos as palavras inconcebíveis
onde a descoberta mantém a porta aberta
para ter como política a arte do possível
nu plural de todas as descobertas

A PAR INDO POETANDO

as palavras se laçam e abraçam
extensões do corpo que as sente
quais canções no ouvido caçam
toda a emoção tornada presente

é desta ideia feita sensibilidade
este tocar de ouvido uma poesia
capaz de dar a paz e esta idade
nu momento a rimar de fantasia

sentir que me dispo se dispondo
de mergulhar no oco vou ao eco
para mergulhar gesto compondo

movimento nesta escrita saindo
quando o que posso dizer poeto
dando nome ao feito se parindo

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

ENSAIO DE ORQUESTRA


Alguém já viu o filme "Ensaio de orquestra" de Federico Fellini? Esta pergunta é um convite a verem, bem como forma de abordar um romance que gostaria de escrever. A estes parágrafos vou dar o título do filme, funciona como analogia, a explorar um outro universo: "O grupo de teatro". Quem, como, onde, porquê? Todas estas interrogações respondidas pela procura, descoberta, resposta duma mesma realidade: um grupo, tendo como interesse comum, o Teatro. Esta ideia que nos leva à representação, às cenas, à peça onde elas se integram, aos personagens, às pessoas concretas.
É uma ironia que a ironia seja ironia precisamente quando diz o contrário do que quer dizer, não haveria ironia sem... a Ironia. São as palavras que fazem a realidade ou é a realidade que se alimenta de palavras? Neste último caso, só haveria realidade e as palavras seriam uma parte da realidade indissociável dela, realidade. Ora, devemos saber, tudo resulta da associação... química, física, realidade, palavras. Podemos então dizer, só existem palavras, a realidade é o que imaginamos a partir delas.
Deixemos o grupo em paz, passemos ao texto ou guião a ser trabalhado pelo grupo. Nasce aqui a primeira leitura que dou a ler dentro do que tem de ser escrito, para esta escrita ser feita sobre uma determinada realidade: uma peça, o grupo que a irá representar, a obra a ser representada? A interrogação é importante para... nada ser dado por certo. Quem sabe para onde vamos, se apenas queremos estar no ponto onde chegámos? É bom saber e perceber não estarmos parados, muito melhor é saber e perceber podermos parar e dizer: estamos aqui. Amanhã continuo, precisa_mente... a partir daqui.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

PROCESSO APONTAMENTO

PROCESSO CRIATIVO
 
É todo o dia, a toda a hora, é a Hora! O o de hora abre, o H democratiza-se, o Homem é genérico! A exclamação é explosão interior à qual se chega pela impressão da expressão, e essa é esta, a escrita. A modelação, na sua permanente e constante reformulação de modelos estabelece a Moda nas suas componentes permanentes de efémera e mera diatribe onde a tribo explora as tensões que transformam a intenção na primordial criação da vontade: está na moda a descoberta da Moda, de modo a mudar um mudo em cantor lírico, es_cre_vendo... versos.
Verso a genialidade, o lustro da lamparina mágica. Quem descobre no gesto tudo o resto, vai na rota onde rota a mordaça o silêncio se preenche desde o primeiro grito, berro, choro? Então, um chorinho, acordando nas suas raízes a despertar um samba, embala o coração e é com profunda e reverente emoção que o amor proclama uma terra sem amos! Seja assim e todos os dias se faça anos, desde o primeiro ano, de outros dias que todos os dias devem ser festejados. Disse, está escrito, é o processo criativo.


enquanto te distrais com o que te vem à cabeça
distrais-te com o que te vem à cabeça,
parece ser a coisa mais indicada para se fazer,
não é preciso apontar, tomar apontamento
é o bastante para registar o momento

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O KARMA E A TRINDADE


O seu karma teria definido o seu futuro e teria o seu destino marcado, qual seria? Tornou-se mais aventureiro, modificara a sua maneira de ser. Sem pensar muito nas consequências do seu arriscar, começara a ter consequências novas, estava a dar-se bem. Não satisfeito pelas suas novas experiências, resolveu voltar a entrar numa igreja e confessar-se. O padre conseguiu dar-lhe maior consciência, sentimento de culpa e uma penitência de duas Avé Marias. Afinal ele não tinha verdadeiros pecados, mas saiu da igreja tão frágil como era antes. Tinha ido queixar-se de ter perdido a namorada, e estar com mau karma. Caiu-lhe o Carmo e a Trindade, ficou desmoralizado!

Carmo e Trindade, quartéis militares em Lisboa que resistiram à Revolução de 25 Abril de 1974, até se renderem e caírem sob a liderança do MFA - Movimento das Forças Armadas.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

PERDA E ENCONTRO

procuro a alma porque não sei dela
ou sei dela porque a procuro?
rimo um rumo olhando o escuro
onde um raio de luz nasce + forte!

a força do poema é esta suavidade
onde o tempo se perde e encontra

domingo, 6 de fevereiro de 2011

+ ARTE POÉTICA

1
o que acontece é que a poesia nos faz
2
para a fazermos temos de ser quem somos
descobrindo que outros somos assim
3
através das palavras imaginadas nu tudo
num todo onde só há como parte a Arte

sábado, 5 de fevereiro de 2011

EX.

a narrativa simples
leva-me para uma explicação
sóbria dos meus actos

dela espero sobre
uma obra aqui composta
de palavras e versos

onde os sons não se libertam
à pressa ficando presos presas
da intenção que os organiza

ao fazer do canto manifestação
duma paixão e fé desconhecidas
só por aqueles que não amam

intuitivamente todos sabemos
ser a poesia uma prova de amor
cantando-a o espanto a libertar

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

VERSOS SUSPENSOS

Interessante função do motor de busca incorporado no blog (está no final da página), dei-lhe a digerir a palavra "ela". Imagina a surpresa que tive quando, ao fim duns minutos de leitura, descubro que "ela" também sou eu.
Se não tiveres paciência para ir à Pitonisa (agora vou experimentar a palavra...), basta fazer clique sobre ela.
O que tirei da viagem, a "transformação interior"? Além da viagem, uma passagem:

«como se fosse ser trapezista»

VERSOS SUSPENSOS
              da Babilónia

passar da leitura
              para a escrita
deve ser o que me faz
                          escrever
os meus - versos suspensos

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

PALAVRAS EM SILÊNCIO

«sou pobre e só tenho os meus sonhos.
Deitei-os todos aos teus pés
Pisa com cuidado»,
W.B.Eats

procuro sonhos que não tenho,
guardo, esqueço, uso, transmito,
imito sons que emito... pensando